*Matérial de saula de aula(Prof. Arthur Dapieve)
“Olha o mate! Mate geladinho! Vai um copinho ai senhor?”, carregando um galão de alumínio em cada ombro, o vendedor de chá oferecia seu produto para qualquer pessoa que avistava. O grito de oferta assustou João de Oliveira Ramos de 68 anos. O ex-funcionário público aproveitou o belo sábado de sol carioca para descansar na praia que costumava freqüentar em 1958: “Quase todo final de semana eu pegava a lotação até o Hotel Leme (hoje Leme Palace), corria com uma bóia de pneu debaixo do braço e ia pegar jacaré na altura do Copacabana Palace, era lá que tudo acontecia”, lembra o aposentado. Usando óculos escuros, bermuda folgada e camisa xadrez, João espalhava protetor solar no rosto e nos braços.
- Em 1958 não era comum nos preocuparmos com os danos causados pela radiação solar. Na verdade, só queríamos ficar com uma cor bonita e chamar a atenção da mulherada. As pessoas faziam os seus próprios bronzeadores. Lembro de uma vez que uma colega passou uma mistura de Coca-cola com cenoura e beterraba no corpo. Os protetores solares eram muito caros e por isso existiam várias receitas de como pegar o melhor bronzeado, conta.
O relógio do Posto 4 marcava uma hora da tarde. Após ajeitar os óculos escuros, João de Oliveira lembrou que tinha marcado de encontrar sua esposa em frente ao Hotel Copacabana Palace, famoso pelos bailes e pela piscina em 58. João tomou o último gole de água-de-coco e começou a caminhar no calçadão em direção ao hotel. Enquanto andava pelo trajeto marcado pelas pedras portuguesas, ele observava o grande número de vendedores na praia. Os olhos do ex-funcionário público miravam um jovem hippie que vendia brincos e outros acessórios para um grupo de turistas estrangeiros. Para aquele senhor devia ser estranho lembrar que há 50 anos atrás aquela cena não existia. “Haviam pouquíssimos vendedores ambulantes. Além disso a praia era muito mais limpa do que hoje em dia, levávamos a nossa própria comida”, comenta João.
Após cinco minutos de caminhada no sol forte, finalmente João encontrou sua esposa sentada em um baquinho de cimento. Ana Carolina Sá Ramos, de 68 anos, aparentava ser mais nova do que seu marido. Usando um boné azul e roupa branca folgada, a ex-atriz carregava várias fotos da época que tinha 19 anos. “Nessa foto eu estava usando meu biquíni duas peças. Eu mandava costurar no centro da cidade. Meu pai não gostava muito que eu usasse na praia”, comenta. Outra foto que chamava atenção era do jovem casal deitado em uma esteira de palha na areia da praia. Ana Carolina usava óculos escuros em formato de losango, maiô com margaridas desenhadas e unha bem pintada. João usava short de náilon e camiseta listrada.
Os hábitos de quem freqüentava a praia no ano da criação da bossa-nova eram diferentes dos atuais. As pessoas levavam esteiras de palha, semelhantes às cangas atuais, e sentavam sobre ela. A sombrinha sempre foi um acessório obrigatório. Segundo a designer Paula Acioli, as jovens do final dos anos 50 costumavam usar maiô com barriguinha na cintura. “As roupas não podiam mostrar as formas do corpo da mulher.A idéia era não marcar a parte da virilha, pois na época era considerado erótico. Os homens usavam shorts de náilon e camisas listradas”, lembra a designer.
A Praia de Copacabana vivia o seu auge. Famosos e anônimos costumavam dividir o mesmo espaço na areia. “Sabíamos na hora quem era chique e quem era da Zona Norte. Brincávamos dizendo que quando a pessoa chegava na praia e deitava na areia sem esteira era porque era pobre”, brinca o aposentado. Ipanema e Leblon ainda eram locais apenas residenciais. As praias do Flamengo e de Botafogo eram consideradas ruins, pois havia muitas pedras. O Bob’s era a nova sensação da classe média. Era chique comer hambúrguer na beira na praia. Os clubes noturnos que faziam mais sucesso ficavam na Avenida Atlântica. O Fred’s, onde funcionará o Hotel Iberostar Copacabana, ex-Meridien, e o Bolero atraíam jovens de todas as classes sociais. Já a boate Sacha’s, que ficava na Rua Padre Antônio Viera, no Leme, atraia a classe média alta.
E foi em um desses bailes noturnos que o casal João de Oliveira Ramos e Ana Carolina Sá Ramos se conheceu. Enquanto no hi-fi tocava Cauby Peixoto, Chuck Berry e Emilinha Borba, o jovem João, então com 18 anos, tomava coragem para chamar Ana Carolina, também 18 anos para conversar. Após tomar duas doses de Cuba Libre, João encontrou coragem e chamou a bela moça para conversar. Papo vem, papo vai, Ana Carolina conta que havia prometido ao pai chegar antes das duas horas da madrugada em casa. Aproveitando o momento, João prometeu levá-la em casa.
“Eu morava no Catete e ela em Botafogo. Peguei o carro de um amigo emprestado, um Impala de rabo-de- peixe, fingi que era meu e parti com o meu broto. Depois que chegamos na porta da casa dela tentei dar um beijo, mas a Ana não deixou. Depois desse dia prometi que nunca ia desistir dela”, o ex-funcionário público abriu um sorriso.
Naquela hora, o trânsito na Avenida Atlântica estava intenso. Os dois sentidos da pista estavam engarrafados. Motoristas impacientes buzinavam e todos os ônibus estavam cheios. “Em 1958, a avenida só tinha uma pista. Imagina o caos que seria se ela ainda fosse daquele jeito?”, questionou João. Próximo ao casal de idosos, um jovem começou a discutir com um motorista de uma van. Espantada com a grosseria do rapaz, a ex-atriz comparou a antiga juventude transviada com a atual:
- Na minha época a gente costumava sair pra beber também. Mas a diferença dos jovens de hoje é que eles são muito mais violentos. Lembro que existia um grupo perto daqui que costumava fazer baderna. Eram conhecidos como os jovens transviados da Miguel Lemos. Essa turma arranjava briga por causa de mulher, fazia pega de madrugada com suas lambretas. Apesar de tudo não costumava arranjar confusão por qualquer besteira. Eram tempos muito menos violentos.
A ex-atriz tem razão. Em 1958 a cidade do Rio de Janeiro registrava um assalto a cada duas horas. ”Já vi vários assaltos aqui em Copacabana. Sinto saudades de 58 por causa da tranqüilidade da época. Eu podia ir e voltar para casa tranquilamente de bonde. Tirando isso, continuo amando a nossa princesinha do mar”, suspira João de Oliveira Ramos.
“Olha o mate! Mate geladinho! Vai um copinho ai senhor?”, carregando um galão de alumínio em cada ombro, o vendedor de chá oferecia seu produto para qualquer pessoa que avistava. O grito de oferta assustou João de Oliveira Ramos de 68 anos. O ex-funcionário público aproveitou o belo sábado de sol carioca para descansar na praia que costumava freqüentar em 1958: “Quase todo final de semana eu pegava a lotação até o Hotel Leme (hoje Leme Palace), corria com uma bóia de pneu debaixo do braço e ia pegar jacaré na altura do Copacabana Palace, era lá que tudo acontecia”, lembra o aposentado. Usando óculos escuros, bermuda folgada e camisa xadrez, João espalhava protetor solar no rosto e nos braços.
- Em 1958 não era comum nos preocuparmos com os danos causados pela radiação solar. Na verdade, só queríamos ficar com uma cor bonita e chamar a atenção da mulherada. As pessoas faziam os seus próprios bronzeadores. Lembro de uma vez que uma colega passou uma mistura de Coca-cola com cenoura e beterraba no corpo. Os protetores solares eram muito caros e por isso existiam várias receitas de como pegar o melhor bronzeado, conta.
O relógio do Posto 4 marcava uma hora da tarde. Após ajeitar os óculos escuros, João de Oliveira lembrou que tinha marcado de encontrar sua esposa em frente ao Hotel Copacabana Palace, famoso pelos bailes e pela piscina em 58. João tomou o último gole de água-de-coco e começou a caminhar no calçadão em direção ao hotel. Enquanto andava pelo trajeto marcado pelas pedras portuguesas, ele observava o grande número de vendedores na praia. Os olhos do ex-funcionário público miravam um jovem hippie que vendia brincos e outros acessórios para um grupo de turistas estrangeiros. Para aquele senhor devia ser estranho lembrar que há 50 anos atrás aquela cena não existia. “Haviam pouquíssimos vendedores ambulantes. Além disso a praia era muito mais limpa do que hoje em dia, levávamos a nossa própria comida”, comenta João.
Após cinco minutos de caminhada no sol forte, finalmente João encontrou sua esposa sentada em um baquinho de cimento. Ana Carolina Sá Ramos, de 68 anos, aparentava ser mais nova do que seu marido. Usando um boné azul e roupa branca folgada, a ex-atriz carregava várias fotos da época que tinha 19 anos. “Nessa foto eu estava usando meu biquíni duas peças. Eu mandava costurar no centro da cidade. Meu pai não gostava muito que eu usasse na praia”, comenta. Outra foto que chamava atenção era do jovem casal deitado em uma esteira de palha na areia da praia. Ana Carolina usava óculos escuros em formato de losango, maiô com margaridas desenhadas e unha bem pintada. João usava short de náilon e camiseta listrada.
Os hábitos de quem freqüentava a praia no ano da criação da bossa-nova eram diferentes dos atuais. As pessoas levavam esteiras de palha, semelhantes às cangas atuais, e sentavam sobre ela. A sombrinha sempre foi um acessório obrigatório. Segundo a designer Paula Acioli, as jovens do final dos anos 50 costumavam usar maiô com barriguinha na cintura. “As roupas não podiam mostrar as formas do corpo da mulher.A idéia era não marcar a parte da virilha, pois na época era considerado erótico. Os homens usavam shorts de náilon e camisas listradas”, lembra a designer.
A Praia de Copacabana vivia o seu auge. Famosos e anônimos costumavam dividir o mesmo espaço na areia. “Sabíamos na hora quem era chique e quem era da Zona Norte. Brincávamos dizendo que quando a pessoa chegava na praia e deitava na areia sem esteira era porque era pobre”, brinca o aposentado. Ipanema e Leblon ainda eram locais apenas residenciais. As praias do Flamengo e de Botafogo eram consideradas ruins, pois havia muitas pedras. O Bob’s era a nova sensação da classe média. Era chique comer hambúrguer na beira na praia. Os clubes noturnos que faziam mais sucesso ficavam na Avenida Atlântica. O Fred’s, onde funcionará o Hotel Iberostar Copacabana, ex-Meridien, e o Bolero atraíam jovens de todas as classes sociais. Já a boate Sacha’s, que ficava na Rua Padre Antônio Viera, no Leme, atraia a classe média alta.
E foi em um desses bailes noturnos que o casal João de Oliveira Ramos e Ana Carolina Sá Ramos se conheceu. Enquanto no hi-fi tocava Cauby Peixoto, Chuck Berry e Emilinha Borba, o jovem João, então com 18 anos, tomava coragem para chamar Ana Carolina, também 18 anos para conversar. Após tomar duas doses de Cuba Libre, João encontrou coragem e chamou a bela moça para conversar. Papo vem, papo vai, Ana Carolina conta que havia prometido ao pai chegar antes das duas horas da madrugada em casa. Aproveitando o momento, João prometeu levá-la em casa.
“Eu morava no Catete e ela em Botafogo. Peguei o carro de um amigo emprestado, um Impala de rabo-de- peixe, fingi que era meu e parti com o meu broto. Depois que chegamos na porta da casa dela tentei dar um beijo, mas a Ana não deixou. Depois desse dia prometi que nunca ia desistir dela”, o ex-funcionário público abriu um sorriso.
Naquela hora, o trânsito na Avenida Atlântica estava intenso. Os dois sentidos da pista estavam engarrafados. Motoristas impacientes buzinavam e todos os ônibus estavam cheios. “Em 1958, a avenida só tinha uma pista. Imagina o caos que seria se ela ainda fosse daquele jeito?”, questionou João. Próximo ao casal de idosos, um jovem começou a discutir com um motorista de uma van. Espantada com a grosseria do rapaz, a ex-atriz comparou a antiga juventude transviada com a atual:
- Na minha época a gente costumava sair pra beber também. Mas a diferença dos jovens de hoje é que eles são muito mais violentos. Lembro que existia um grupo perto daqui que costumava fazer baderna. Eram conhecidos como os jovens transviados da Miguel Lemos. Essa turma arranjava briga por causa de mulher, fazia pega de madrugada com suas lambretas. Apesar de tudo não costumava arranjar confusão por qualquer besteira. Eram tempos muito menos violentos.
A ex-atriz tem razão. Em 1958 a cidade do Rio de Janeiro registrava um assalto a cada duas horas. ”Já vi vários assaltos aqui em Copacabana. Sinto saudades de 58 por causa da tranqüilidade da época. Eu podia ir e voltar para casa tranquilamente de bonde. Tirando isso, continuo amando a nossa princesinha do mar”, suspira João de Oliveira Ramos.
2 comentários:
você reparou que o senhorzinho precisou de umas e outras pra "chegar" na futura esposa dele? é rapaz, certas coisas não mudam. rs
banhos quentes....
huahauhauahuah
Postar um comentário