quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Tão longe, tão perto


“Rapaz, você não sai desse Facebook não?! Sai do computador e vai trabalhar, vagabundo!” – uma pessoa qualquer falando com esse que vos escreve.

Desde que Mark Zuckeberg inventou o tal do álbum de rostos, ou pelo menos desde que conheci (2008), confesso que virei fã instantâneo. A ideia “simples” de agregar os amigos num espaço, ou rede social, já não era novidade. Um libanês já havia plantado a sementinha do mal aqui no Brasil, com bastante êxito, diga-se de passagem.

O grande lance do gênio virtual de Harvard foi possibilitar o usuário de compartilhar para todos, em tempo real, os pensamentos, links, vídeos, etc. Não me considero um nerd, acho que estou longe de ser. Mas a tal tecnologia é uma paixão que me encanta desde que me lembro como gente.

O ano? 1994. Lá estava eu, com meus 9 anos de idade, tinha acabado de chegar em casa e dou de cara com aquela coisa linda em cima da mesa da biblioteca/videoteca do meu pai. Um 386, sistema operacional DOS, sem mouse, com apenas um fundo preto e uma linha que não parava de piscar, implorando por uma digitação.

“Com isso aqui (computador) você e seus irmãos vão poder fazer trabalhos na Escola, sem usar lápis, e vão até jogar joguinhos (sic)”, dizia meu pai.

Batata! Pouco tempo depois lá estava fuçando naquela máquina grande, com uma boca de disquete do tamanho de um livro de bolso (estilo Penguin Books), jogando campo minado, bang bang (jogo dos canhões, lembra?), pipe dream, paciência e até taipei. Mas a tecnologia não pára, e logo apareceu o patriarca com mais uma novidade: 586, com mouse, sistema operacional XtreeGold e mais uma porrada de jogos e aplicativos (e o disquete menor). Acho que posso dispensar a catarze de alegria que senti, certo?

Essa tal tecnologia... Em menos tempo as novidades, produtos dela, brotaram na mesma sala. Windows, CD-Rom, multimídia, CD (adeus vinil), imagem 2D, 3D, impressora (adeus cartolina)... tudo isso virou palavra comum do vocabulário home Office. Aliás, nunca foi tão fácil aprender inglês sem cursinho, sem aquelas fitas k-7 com repetições. Fita?! Nada disso, agora o lance era CD aula.

Sei que desde aquele fatídico dia, lá ainda em 1994, tenho impressão de que sentei na frente daquele 386 e nunca mais sai de lá. Os objetos de consumo e fascinação mudaram ou evoluíram, por assim dizer. As relações de afeto, do dia a dia também cambiaram. Evoluíram tbm?! Não sei. Tenho a sensação que não. Profissionalmente falando, as informações ficaram mais fáceis, ágeis, práticas. As mesmas se empobreceram, é verdade. Ficamos acostumados com notícia fácil, rala, sem muito embasamento. Essa é uma discussão complicada e muito recente, talvez uma questão que a minha geração vai debater muito em bar, faculdade, palestras e afins.

A questão é tanta que pensando nisso, o jovem argentino, Gustavo Taretto, dirigiu seu primeiro filme tratando o tema com um caso especial, que poderia acontecer em qualquer cidade grande, no caso da película, Buenos Aires. Extensão do curta-metragem homônimo escrito e dirigido por ele em 2005, Medianeras é uma singela meditação sobre a alienação urbana nas grandes cidades e o impacto da tecnologia nas relações humanas a partir dos desencontros de dois solitários destinados a ficar juntos, mas que, por obra do acaso (ou falta de sincronicidade do destino), nunca se encontram.

Em busca de amor, um pouco de compreensão e a tão idealizada “cara metade”, os dois representam uma geração acostumada a passar mais tempo na frente do computador do que com pessoas reais. Esse distanciamento do real, promovido pela ausência do contato humano, por mensagens de texto abreviadas e promessas virtuais, representa um dos grandes paradoxos da tecnologia na contemporaneidade. Ao mesmo tempo em que abre inúmeras possibilidades, conectando pessoas do mundo inteiro, o ser humano está cada vez mais on line e imerso em sua própria individualidade. É por uma conexão verdadeiramente humana com o outro que os protagonistas de Medianeras tanto anseiam.


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